sexta-feira, novembro 20, 2009

"O homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher"

«3 A frase é esta: "Por esse motivo, o homem deixará o pai e a mãe, para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne" (cf. Génesis 2, 24). O escriba ou os escribas que compuseram este mítico relato das origens do Povo Hebreu nunca sonharam a nefasta influência que esse seu relato mítico, em grande parte, copiado dos relatos míticos dos outros povos mais desenvolvidos em redor, viria a causar, pelos séculos fora, até ao século XXI, que é agora o nosso. Viviam no palácio real, comiam à mesa do rei, recebiam dele mordomias, tinham inevitavelmente que escrever de acordo com as ordens, as ambições de domínio da casa real que lhes pagava para isso, de modo que, assim, até os crimes que viessem a ser cometidos por essa casa real contra as outras tribos hebreias e contra os povos em redor, olhados, desde logo, como inimigos dos Hebreus, estavam, à partida, justificados e até abençoados. Afinal, era Deus que assim queria. Era Deus que assim mandava. Só que semelhante Deus não passa de um Ídolo. Como é sempre um Ídolo, todo o Deus que está da banda do Poder, a justificá-lo e abençoá-lo.
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5 Aquela frase não fundou o casamento, como mentirosamente ensinam ainda hoje as cúpulas das Igrejas e as suas catequeses paroquiais, inclusive, as suas Faculdades de Teologia. (Já reparamos que das cúpulas das Igrejas, como das cúpulas do Poder Político e do Poder Financeiro, só vêm desgraças, mentira e crime, por outras palavras, elas existem só para roubar, matar e destruir os seres humanos e os povos?!). Muito menos, aquela frase fundou o casamento monogâmico. Muito menos ainda, ela fundou o casamento de um homem com uma mulher. Nunca esteve nas intenções da casa real de David /Salomão semelhante intenção /preocupação (basta dizer que a própria Bíblia regista que Salomão "amou muitas mulheres estrangeiras e moabitas, amonitas, edomitas, sidónias e hititas [...]. Teve setecentas esposas de sangue nobre e trezentas concubinas", cf. 1Reis, 11, 1-3)). Nem nunca esteve nas intenções /preocupações dos escribas que executaram as ordens que a mesma casa real lhes deu. O grande objectivo do relato mítico das origens era reforçar o Poder da casa real sobre as demais casas hebreias, um domínio cada vez mais absoluto. E, posteriormente, sobre os outros povos em redor, até que fosse criado o grande Império Judeu, com o Deus de David a presidir /reinar! Um Deus que só podia ser, só pode ser, o Ídolo dos ídolos.
 
6 Reparemos que a referida frase coloca o assento tónico, a iniciativa, no "homem", não na "mulher". Diz: "Deixará o homem, o pai e a mãe, para se unir à sua mulher e os dois serão uma só carne". O Poder é macho, sempre será macho, mesmo que seja exercido por mulheres. Só a Política é feminina. O Poder, todo o Poder, é macho. Está aí para dominar, oprimir, esmagar, reprimir, roubar, explorar, infantilizar e, finalmente, matar. Nunca os seres humanos e os povos do Planeta o seremos verdadeiramente, enquanto houver Poder. O Poder é o Inimigo do Humano. Só a Política Praticada é amiga do Humano. Faz o Humano ser /crescer, até tornar-se autónomo, livre, responsável por si e pelos demais e pelo Planeta. Este é o objectivo de Deus Criador. Não é o objectivo do Ídolo. O objectivo do Ídolo é descriar o Humano, para ser ele, o Poder, a reinar. Enquanto Deus Criador do que gosta é de Política Praticada pelos seres humanos e pelos povos, o Ídolo que se faz passar por Deus, do que gosta é do Poder Político.»
 
do capítulo 26 do "Livro da Sabedoria" do Mário de Oliveira
 

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